terça-feira, 13 de agosto de 2024

Tecnologia e verdade

A facilidade que a internet nos deu para receber e gerar uma infinidade de informações, trouxe-nos preocupação cada vez maior com a qualidade do que recebemos. E intriga-nos, também, por que algo específico e não solicitado chega. Certamente há algoritmos em ação, que nos catalogaram como alvos de temas que nos interessariam. Buscam manter-nos conectados, o maior tempo possível, nas tais “bolhas de conteúdo”.

Se cresce a informação que um destinatário recebe, o mesmo acaba acontecendo com falsidades e desinformação. Para tratar disso, evitemos cair na armadilha dicotômica, maniqueista, que visa a separar o verdadeiro do falso: é uma empreitada impossível. Em relação a conhecimento científico, bom lembrar Karl Popper, que define ciência como algo que, necessariamente, pode ser “falseado”. Se não se admite argumentação contrária, estamos diante de um “dogma” e não de uma proposta científica. O exemplo mais extremo talvez seja “o ministério da verdade”, da obra de Orwell, “1984”. A verdadeira ciência vale-se do questionamento para provar-se continuamente sólida ou, até, reconhecer eventualmente que algo deva ser revisto.

Uma discussão recente trouxe à baila posicionamentos de Amós Óz, literato e filósofo israelense, que sustenta ser a verdade um alvo móvel. Dela só conseguimos nos aproximar a partir de debates abertos e variados (mais ou menos na linha do velho adágio “da discussão nasce a luz”). No tema “verdade”, Nietzsche, mais radical que a Oz, afirmou que “não existem fatos; apenas interpretações de fatos”. Ambos, portanto, consideram “verdade” não como um dado objetivo e absoluto, mas uma construção humana, influenciada por perspectivas, experiências e valores. Um ideal a ser perseguido, mesmo que nunca completamente alcançado. Da discussão aberta, do diálogo, de buscar pontes entre diferentes visões. é que se chegará a resultados úteis.

A internet deu armas a oportunistas que lançam mão de ferramentas da tecnologia para disseminar, não argumentos honestos em que creiam, mas falsidades intencionais, que reforcem narrativas de seu interesse. Independentemente de nossa definição de “verdade”, é importante distinguirmos entre o salutar e aberto debate, e a imposição insidiosa de dogmas. Manter posição crítica sobre o que recebemos, e exercer contenção no que repassamos, evitará que nos tornemos apoio involuntário aos que buscam disseminar algo de seu próprio interesse. É fundamental desenvolver pensamento crítico, avaliar a credibilidade da informação. Isso inclui reconhecer nossos próprios viéses, e considerar diferentes perspectivas antes de disseminar uma opinião.

Em grego a palavra “verdade” é “alétheia”, que significa “a negação do esquecimento” - Lete é o nome do “rio do esquecimento” no Hades. Segundo Martin Heidegger, “verdade é o desvelar, revelar o que está oculto”. Numa frase dele, “a essência da verdade é a liberdade”.

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Um ensaio bastante bem feito, por IA, sobre o tema:
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A Ilusão da Verdade: Oz, Câmeras e "Deepfakes" em um Mundo Digital

Amos Oz, em sua profunda reflexão sobre a natureza humana e a busca pela verdade, nos convida a questionar a própria noção de realidade. Para o escritor israelense, a verdade é um ideal perseguido, mas raramente alcançado. A complexidade da experiência humana, a subjetividade da percepção e a influência do contexto histórico e cultural tornam a verdade um constructo fluido e mutável.

No mundo contemporâneo, essa noção de verdade se torna ainda mais complexa com o avanço da tecnologia. As câmeras fotográficas, por muito tempo consideradas testemunhas imparciais da realidade, revelam-se cada vez mais como instrumentos de construção de narrativas visuais. A fotografia, assim como a pintura ou a escultura, é um ato de seleção e composição, que molda a percepção do espectador. A imagem capturada por uma câmera não é uma reprodução fiel da realidade, mas sim uma interpretação dela, filtrada pelas lentes do fotógrafo e pelas características da própria câmera.

A ascensão dos "deepfakes" agrava ainda mais essa crise de confiança na imagem. Essas falsificações digitais, capazes de criar vídeos hiper-realistas de pessoas dizendo ou fazendo coisas que nunca fizeram, desafiam nossa capacidade de distinguir o real do falso. As "deepfakes" não apenas questionam a autenticidade das imagens, mas também minam nossa confiança nas instituições e nos indivíduos que aparecem nesses vídeos.

A relação entre as ideias de Oz, a fotografia e os "deepfakes" pode ser resumida da seguinte forma:

  1. A verdade como construção: Assim como a verdade para Oz não é um dado objetivo, mas uma construção social e histórica, as imagens fotográficas e os "deepfakes" também são construções, moldadas por tecnologias, intenções e contextos específicos.

  2. A ilusão da objetividade: A câmera fotográfica, assim como a linguagem, cria a ilusão de objetividade, mas essa objetividade é sempre relativa e dependente de diversos fatores.

  3. A importância do contexto: A interpretação de uma imagem ou de um vídeo depende do contexto em que ela é inserida. A mesma imagem pode ter significados completamente diferentes dependendo de quem a produz, para quem ela é destinada e em qual momento histórico ela é apresentada.

  4. A necessidade de criticidade: Diante da proliferação de imagens e vídeos manipulados, torna-se cada vez mais importante desenvolver um lhar crítico e questionador, capaz de identificar as estratégias de manipulação e as intenções por trás das mensagens visuais.

Em conclusão, as ideias de Amos Oz sobre a verdade, quando confrontadas com o poder de manipulação das imagens digitais, nos levam a refletir sobre a natureza da realidade e a importância da crítica e do pensamento autônomo em um mundo cada vez mais mediatizado. A busca pela verdade, longe de ser um exercício ingênuo, exige um esforço constante de desconstrução das narrativas dominantes e de construção de um olhar mais crítico e informado sobre o mundo que nos cerca.

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