terça-feira, 14 de março de 2023

Nomes, Domínios e Palavras

Está acontecendo em Cancun a 76a ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers). Criada em 1998, a ICANN teve sua primeira reunião em Cingapura em março de 1999 e, a partir dali, faz tres reuniões por ano. Duas foram no Brasil: a ICANN16 no Rio de Janeiro e a ICANN27 em São Paulo. É uma organização não governamental, sem fins lucrativos, sediada em Los Angeles, Estados Unidos, e tem como função precípua cuidar da raíz de “nomes” da Internet (que ancora os “domínios de topo” como .com, .net, .org, .br, .de ...), e também distribuir “números”: a numeração IP (Internet Protocol) a regiões e países, que depois os repassam a entidades. Entre os domínios de topo há os de “código de país”, como o .br (Brasil), o .de (Alemanha) e mais algumas centenas; e os “genéricos”, .com, , .net e mais uns milhares. Importante diferença em sua caracterização: enquanto muitos dos “de país” são anteriores à própria ICANN e são em geral operados sem fins de lucro gozando de autonomia em suas regras, os “genéricos” tem contrato com ICANN e são, em geral, operados por instituições comerciais.

A ICANN é uma organização multissetorial: dela participam diversos segmentos da Internet: da área técnica, de organizações de usuários, do terceiro setor, e de representantes de governos. Tópicos recorrentes nas últimas reuniões tem sido o debate sobre necessidade ou não de haver mais domínios do tipo genérico (e como isso seria tornado viável de modo seguro), e formas de se combater o abuso de estruturas da Internet como o DNS (Domain Name System, o sistema hierárquico de nomes). O .br vai bem neste ponto: mesmo sendo um domínio com mais de 5 milhões de registros, está entre os mundialmente mais seguros: suas regras de registro têm se mantido constantes, fiéis aos princípios originais da Internet, e é restrito a quem possui CPF ou CNPJ, portanto limitando o conjunto de seus registrantes a quem tem relação com o país.

Enquanto se esperam resultados da ICANN-76 – voltaremos a eles - não resisto a uma provocação (não de minha competência!) ao que me parece outro tipo de abuso: o de palavras. Claro que a língua é dinâmica, e de há muito foram-se os dias em que texto de jornal era usado em sala de aula como exemplo de escrita, mas, se já incomodavam neologismos mal-formados como “gordofobia”, eles ganham irmãos igualmente disformes: “velhofobia” anda por aí, provando que “nada está tão mal que não possa piorar”… Fobia é medo ou aversão, não ódio ou ataque (para ódio há “miso”: misoginia, misantropia). Há medos definidos: acrofobia (de beiradas altas), claustrofobia (de ambientes fechados), agorafobia (de praça pública). Talvez, à luz das “novidades", essa semântica mude... Acrofobia passaria a ser o “ódio aos acreanos”? Claustrofobia o “ódio a freiras e frades”? E agorafobia o “ódio ao que ocorre hoje”? Piedade!

===
https://meetings.icann.org/en/



Nenhum comentário: