O conto “O Imortal”, de Jorge Luis Borges, começa com uma intrigante frase de Francis Bacon de seu ensaio LVIII “Das vicissitudes das coisas”: “Salomão disse ‘não há nada de novo sobre a Terra’. Platão teve uma inspiração: ‘todo o conhecimento não é senão lembrança’; logo o que Salomão afirmou é que ‘toda novidade não é senão esquecimento’”.
Esse antigo ciclo de esquecimento/abandono e redescoberta foi muito acelerado pela Internet, e fica patente em nossos dias o quanto isso tornou-se crítico. Em assuntos comezinhos, do dia-a-dia, temas defendidos e considerados consolidados há poucos anos acabam por ser revisitados e, não raramente, como se fossem “terra incognita”. Particularmente na computação esse fenômeno é bastante frequente. Veja-se que a inteligência artificial, por exemplo – e ela em sí não é algo particularmente novo: suas raízes estão nos anos 50 – é um tema em voga hoje, tendo voltado com intensa visibilidade e força, e se pesquisas complexas na área são desenvolvidas em instituições sofisticadas, hoje há disponíveis ao entusiasta diletante várias ferramentas abertas na internet. Com elas pode-se ter uma antevisão do que vem por aí e, assim, entusiasmar-se, ou se preocupar…Há diversos aplicativos que permitem, como resposta a uma simples frase digitada, a geração de imagens complexas que buscam ilustrar o significado pedido. Certamente é uma porta aberta a que se montem figuras muito verossímeis… e falsas. Pode ser um ótimo auxiliar a artistas, como também pode aumentar o oceano de desinformações em que estamos mergulhados – ah, uma dessas imagens gerada por AI já ganhou um prêmio em exposição artística, e já se disparou a polêmica correspondente, incluindo-se aí o debate sobre “propriedade intelectual” da obra… Na área de gerador de texto natural também há opções disponíveis, que podem produzir um texto muito realista e, até, imbuir nele um “tom” que pode ser escolhido pelo usuário: sério, jocoso, profissional ou provocativo.
No caso das imagens sintéticas parece estarmos vendo algo novo, mas quanto a textos artificiais há 20 anos já existia, por exemplo, um gerador automático de “artigos científicos” – o SCIgen, desenvolvido no MIT e com código aberto disponível no github. O SCIger produz textos tão críveis que alguns deles foram aceitos para apresentação em eventos e para publicação em revistas. Para temas mais prosaicos e disponível em português há o “gerador de lero-lero”, sobre assuntos variados.
A evolução da tecnologia parece ser em espiral, onde um ponto já examinado no passado volta a ser visitado, mas com potência multiplicada pelos avanços da técnica… Aliás, pareceu-me que já usei a frase aqui citada, do Bacon, em outro artigo… Bem, é mais uma demonstração de que não há novidade, apenas esquecimento. Perdão leitores!
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https://www.ingenieria.unam.mx/dcsyhfi/material_didactico/Literatura_Hispanoamericana_Contemporanea/Autores_B/BORGES/inmortal.pdf
https://www.bartleby.com/3/1/58.html
“Salomon saith, There is no new thing upon the earth. So that as Plato had an imagination, that all knowledge was but remembrance; so Salomon giveth his sentence, that all novelty is but oblivion.”
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Geradores automáticos de texto:
Geradores automáticos de texto:
https://app.copy.ai/
"O Fabuloso Gerador de Lero-Lero!"
https://lerolero.bgnweb.com.br/
o SCIgen, do MIT, e exemplos:
https://pdos.csail.mit.edu/archive/scigen/
https://pdos.csail.mit.edu/archive/scigen/#examples
O caso do artigo de Alan Sokal
https://physics.nyu.edu/faculty/sokal/
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"O Fabuloso Gerador de Lero-Lero!"
https://lerolero.bgnweb.com.br/
o SCIgen, do MIT, e exemplos:
https://pdos.csail.mit.edu/archive/scigen/
https://pdos.csail.mit.edu/archive/scigen/#examples
O caso do artigo de Alan Sokal
https://physics.nyu.edu/faculty/sokal/
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https://fasbam.edu.br/wp-content/uploads/2020/08/Escada-dos-Museus-Vaticanos.jpg
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