Várias organizações relevantes e ligadas à rede tem entre suas metas a luta pela preservação de uma Internet única. Como exemplo, a ICANN, instituição que cuida da raíz de nomes da rede, em 2013 assumiu o lema “Um mundo, uma Internet”, e publicou um gráfico em que descreve os diferentes níveis da rede e as diversas ações dos operadores.
O que então seria a tal “Internet única”? Como infra-estrutura física e lógica, a rede sustenta-se num conjunto de protocolos e de tecnologias desenvolvidos em comum acordo pela comunidade, aceitos e implementados pelas redes autônomas que voluntariamente se unem formando a Internet global. Esse mosaico de redes cooperantes constitui-se num ambiente de comunicação onde também crescem livremente aplicações e plataformas, que aceitam funcionar segundo os protocolos básicos. É importante assinalar que essas plataformas oferecidas ao público não se confundem com a Internet em si, e que seus méritos, riscos ou mazelas devem ser considerados especificamente. A infra-estrutura e o ambiente onde surgem as tais aplicações devem ser mantidos neutros e ubíquos, sem fronteiras, acessíveis a todos. Esse é o conceito de “neutralidade da rede”. Já se alguém reclama de desinformação, ou de mentiras na rede, isso seria tão culpa da Internet básica quanto uma ofensa ou uma falsidade é culpa da “linguagem humana”. A comunicação, o acesso a ambiente de diálogo, devem ser preservados para todos, mesmo que, como ferramentas, possam servir também a fins espúrios. Aplicações e plataformas, por outro lado, podem apresentar viéses e, podem tanto obter sucesso na comunidade, como serem abandonadas e se extinguirem. Sucesso ou morte de aplicações não causam dano à internet em si.Em tempos complexos com os de hoje, surgem propostas que atentam contra a Internet única. Praza aos céus que não prosperem, como aliás bem tem argumentado muitas das organizações históricas da Internet. Desconectar segmentos da rede ou deformar suas características de resiliência e de redundância traria danos irreparáveis ao sonho de manter o mundo conectado e acessível a cada ser humano… O antídoto à desinformação é mais informação, não menos. E, pior ainda, uma classificação subjetiva e controlada por algumas plataformas do que seria a “informação verdadeira e útil” levará a instrumentalizar o uso da infraestrutura para fins políticos ou, pior, militares. Frequentes “chamados à ação” que visam a desestabilizar trechos da rede, procuram recrutar voluntários (ou seriam mercenários?) para ações de sabotagem à infraestrutura em si, sem que se levem em conta os estragos que isso pode trazer a segmentos da rede e seus usuários.
Podemos e devemos escolher o que acessar, no que acreditar e em que plataforma eventualmente queremos fazer parte, mas, para podermos exercitar esse direito, precisamos que a conectividade, a acessibilidade e a livre inovação sobre a camada básica da rede sejam estritamente preservadas. Um mundo, uma Internet!
Podemos e devemos escolher o que acessar, no que acreditar e em que plataforma eventualmente queremos fazer parte, mas, para podermos exercitar esse direito, precisamos que a conectividade, a acessibilidade e a livre inovação sobre a camada básica da rede sejam estritamente preservadas. Um mundo, uma Internet!
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Sobre "uma Internet única":
ISOC: https://www.internetsociety.org/blog/2022/03/why-the-world-must-resist-calls-to-undermine-the-internet/
https://www.icann.org/en/system/files/files/ecosystem-06feb13-en.pdf
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