Estamos perto de mais um Natal, e esse em plena pandemia. O domingo que passou é o dia de São Nicolau, bispo de Mira que, segundo a tradição, distribuía escondido presentes aos pobres. É a origem de Santa Claus, o nosso Papai Noel. Nos usos cristãos é comum que se monte a árvore de Natal neste dia. Hoje isso envolve novo ritual, de máscaras para as conversas a uma prudente distância, e álcool no trato dos enfeites… Será um alívio quando pudermos voltar a convívio mais livre!
Após tão longo enfrentamento da Covid-19, passamos a ser mais o objeto do que o sujeito dessa questão. Seguimos o que nos é recomendado pelos meios, buscando manter a cautela. Afinal, mesmo que algumas medidas pareçam um pouco exageradas, é sempre melhor previnir. Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal.
Instam-nos a ficar em casa e, graças à tecnologia, podemos sim trabalhar do lar, consultar um médico sem sair da poltrona, ver os filhos estudando em frente à tela do computador. E, precisando de algo, sempre podemos comprar pela Internet: sem sair da mesma poltrona, visitamos sítios que apresentam tentadoras ofertas, escolhemos com critério algo que nos possa ser útil ou, ao menos, que possa nos ajudar a quebrar a tensão do recolhimento, melhorar o ânimo e diminuir a angústia. Ah, também uma pizza ou um lanche são encomendáveis pela rede. E os restaurantes que frequentávamos, hoje fazem “delivery” (outrora isso era chamado de “entrega a domicílio”, mas…). Remédios e bálsamos também podem ser comprados remotamente. Em suma, o “ficar em casa” parece simples e seguro de fazer.
A tecnologia nos dá o ferramental suficiente para nossas ações remotas, mas há ainda um componente físico que permanece: não se prescinde ainda do carteiro, do entregador, do “moto-boy” (ou “moto-girl”), para receber as mercadorias. Parece que esses humanos, ao contrário de nós, precisam sair por aí o tempo todo. E, mais que sair, enfrentar trânsito, manusear pacotes, interagir com muitas pessoas durante as infindáveis entregas. Certamente eles não são imunes à pandemia mas, ao que parece, também não são alvo das campanhas de pregam a cautela. Se, por de um lado, ficamos em casa para nossa própria proteção e a dos demais, isso é possível se houver uma outra parcela que arrosta o perigo para nos entregar o que adquirimos. Um incômodo desequilíbrio que escolhemos não analisar...
Examinemos isso por um outro ângulo: essa atividade de risco poderá ser suprida com a Inteligência Artificial, que promete eliminar trabalhos mecânicos. A entrega com drones auto-orientáveis parece muito próxima da realidade. Grandes companhias, cuja automação e abrangência global já gerou um sensível desmonte de empresas locais, além da supressão de empregos, estão a um passo de conseguir fazer a distribuição de produtos sem participação humana. Aliás há demonstrações impressionantes de voo seguro, complexo e altamente coordenado. Enxames de mini-drones fazem-se, até, de “luzes natalinas”.
Se parece muito humano e adequado diminuir os riscos a que estão expostos os que nos trazem produtos, especialmente em tempos de pandemia, também é certo que sua substituição por drones será irreversível e extinguirá inúmeros postos de trabalho. Sabemos que a tecnologia tem o poder de fazer cada vez mais, mas há que se cuidar de “onde, como e quando” ela entra em cena. Na abertura, livro II, de “Da natureza da coisas”, Lucrécio (século I, AC) passa um recado duro: é suave acompanhar um embate de alguém com o mar e os ventos, desde que estejamos vendo isso da terra firme e segura. “Suavi mari magno...”De Rerum Natura - Livro II - Tito Lucretius Carus
6 de dezembro - São Nicolau de Mira
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desde a terra observar grande desgraça do outro;
não porque atormentar quem quer que seja é agradável prazer,
mas porque suave é ver males de que tu mesmo estás a salvo.
É suave também olhar grandes combates da guerra
dispostos pelos campos, sem parte tua de perigo.
2 comentários:
Você foi citado aqui.
Obrigado pela contribuição com a internet brasileira.
Arthur, obrigado pela referẽncia à citação. Abraço
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