Dilemas...
Não
é fácil encontrar a tramontana no ambiente de crescente
complexidade em que estamos. Dados são insumo fundamental a qualquer
ação, mas se colhidos sem cuidados podem violar nossa privacidade.
Sua proteção mereceu uma lei específica e importante e que está a
poucos meses de viger. Por outro lado, aplicações necessitam de
dados e da experiência humana para melhorar a qualidade do serviço
que prestam. A Lei Geral de Proteção de Dados, a exemplo do Marco
Civil da Internet, demorou alguns anos para ser editada, e isso pode
ser um bom indício. Ao inovar, a legislação deveria sempre ser
cautelosa e valer-se do lema do imperador Augusto, “apressa-te
devagar!”. Cuidemos para que se mantenha a base legal em que se
funda nossa sociedade e que, ao definir a estrutura de direitos do
homem, permitiu-lhe escapar da barbárie.
Tensões
entre o novo e o já existente são perenes. Chesterton foi bastante
feliz em definir conservador como “aquele que busca perpetuar os
erros do passado”, e progressista como “aquele que procura
produzir erros novos”.
Permito-me
uma analogia com a inteligência artificial, especialmente no
“aprendizado de máquina”. Sem discutir a aplicabilidade do
conceito de “aprendizado”, haveria duas vertentes principais:
sistemas “conservadores”, que aprimoram seu funcionamento ao
acumular a experiência humana disponível, e os sistemas
“progressistas” que buscam, por inferência independente, gerar
novas soluções. No primeiro caso podemos exemplificar com a
tradução automática, que melhorou bastante ao se valer da base de
traduções humanas existentes. Para o segundo temos os sistemas que
“aprendem” sem supervisão humana, e não raramente nos
surpreendem pelas escolhas que fazem.
Outro
debate corrente é quanto aos “algoritmos” e seu eventual viés.
No caso “conservador” é pouco provável haver um viés
intencional incluído no algoritmo: ele apenas seguiria o que os
dados que recebeu indicam. Mesmo quando aspectos de seu funcionamento
geram reservas, talvez devêssemos aceitar que ele reflete os dados
que há no domínio amostrado. Adapto aqui uma frase de Vint Cerf
sobre a Internet: os algoritmos varrem dados e, como espelho, mostram
o que lá existe. Se não gostamos do que vemos, não é culpa do
espelho.
A
aventura humana nos levou a planar acima das estatísticas e dos
dados. Ao esposarmos, por exemplo, a igual dignidade de todos os
humanos, a tese não se funda em números ou em “big data”, mas
no arcabouço filosófico e moral estabelecido. Não há nem como,
nem por que, buscar confirmação numérica, estatística, ou mesmo
científica dessa tese.
Bertand
Russel, um cientísta filósofo e pacifista, escreveu em 1953 sobre a
busca de objetivos pouco sensatos: “Se o objetivo for uma tolice,
quanto mais eficientes os meios de que dispomos, pior será.
Conhecimento é poder, tanto para o bem quanto para o mal. A menos
que os homens cresçam ainda mais em sabedoria, qualquer aumento de
conhecimento será apenas aumento da dor”.
Usemos
os dados de que dispomos, sem violar a privacidade dos indivíduos,
para conhecer melhor o mundo que temos. De novo nas palavras de
Bertand Russell, “sabedoria é, inicialmente, entender o mundo como
ele é, e não como gostaríamos que fosse”.
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Video curto do Bertrand Russell sobre o futuro:
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https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/18/Bertrand_Russell_photo.jpg
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