terça-feira, 16 de abril de 2019

BR Balzaquiano

Daqui a dois dias, em 18 de abril, o .br torna-se balzaquiano. O adjetivo, perenizado pela obra de Balzac, remete aos 30 anos, idade da maturidade, do controle de si, da vitalidade e... da sedução. O .br caiu no gosto dos brasileiros desde o início da implantação da Internet no País, em 1991. Em um cenário muito dinâmico, às vezes confuso e fluido, o .br permanece como suporte confiável aos brasileiros que buscam identidade na rede.

A história começa por volta de 1987, quando já estava clara a necessidade, ao menos na área acadêmica, de obtenção de acesso às redes internacionais de computadores que se expandiam rapidamente. A primeira rede buscada pelos brasileiros foi a Bitnet (Because It is Time Network), nome apropriado: “Rede, porque Tá na Hora!”. O Lncc (Laboratório Nacional de Computação Científica) no Rio de Janeiro e a Fapesp, criando a ANSP (an Academic Network at São Paulo), lograram conexão à Bitnet em 1988. Rapidamente universidades e institutos de pesquisa em todo o País buscaram ligar-se à rede. No caso específico da Fapesp, podia-se também acessar a HEPNet (High Energy Physics Network), ligando laboratórios de física de alta energia. 

A área acadêmica, entretanto, não foi a única a ser enfeitiçada pela ideia da troca livre e rápida de informação. Organizações da sociedade civil como o Ibase no Rio de Janeiro, APC e outras ofereciam acesso discado a redes internacionais. Para os que operávamos a rede acadêmica passou a ser importante obter uma estrutura de nomes para as máquinas interligadas. A melhor solução era ter um identificador que fizesse sentido e permitisse uso amplo. O esquema hierárquico de nomes para a Internet, muito bem planejado, já tinha cadastrados e disponíveis todos os códigos de duas letras que identificariam países e territórios. Lá constava o .br.

O passo seguinte foi pedir o .br para uso pelas redes acadêmicas brasileiras. Para nossa agradável surpresa, em 18 de abril de 1989 Jon Postel, responsável pela IANA (Internet Assigned Numbers Authority), considerou o time brasileiro maduro o suficiente para operar o .br. Assim, antes mesmo de obtermos conexão à Internet, recebemos o .br para usar como sobrenome!

De lá pra cá pouca coisa mudou na forma, mas muito mudou na escala. Desde o começo achamos importante deixar o .br fechado, aceitando apenas a empresas e cidadãos brasileiros, e com semântica preservada. O segundo nível sob o .br foi mantido restrito, e criadas alternativas que melhor servissem à característica dos aplicantes. Uma organização não governamental usaria org.br; para comércio e uso geral, com.br; o governo poderia ofertar futuros serviços sobre a rede usando o gov.br. Essa estrutura, inicialmente aberta apenas a pessoas jurídicas, foi sendo ampliada e passou a aceitar pessoas físicas. Foram criadas instâncias para profissões, como adv.br, eng.br, med.br; instâncias para publicadores, como blog.br, wiki.br, art.br e, mais recentemente, para cidades: bhz.br, rio.br, sampa.br. Hoje são mais de 120 alternativas.

Nesses trinta anos o .br atingiu 4 milhões de domínios, o sétimo maior domínio de país no mundo. E segue sedutor, com invejável solidez técnica e resiliência: um balzaquiano atraente e de respeito. “Vida longa e próspera!”, diria o sr. Spock, da Jornada nas Estrelas.


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Página da IANA sobre delegação do .br, onde consta a data de 18/abril/1989:

https://www.iana.org/domains/root/db/br.html
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e aqui as estatísticas do CENTR - Council of European National Top-level domain Registries:


https://centr.org/statistics-centr/quarterly-reports.html

com a tabela correspondente ao final de 2018:




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