São tempos barulhentos. Desde os decibéis que afetam nossos ouvidos no dia a dia ao berreiro virtual nas redes sociais. Fazer ouvir a própria voz e, se possível, conseguir que a retransmitam pela rede, numa avalancha de menções e comentários, nunca foi tão fácil, nem tão fútil, nem tão perigoso.
É a balbúrdia virtual que fazem “exércitos” recém-constituídos, recrutados por terem “voz” e porque são manipuláveis para atender aos objetivos do seu mentor. Criam-se agrupamentos de servos virtuais e esses “soldados” são as coisas, hoje ligadas à rede. A um sinal de seu feitor, começarem a “falar” ininterruptamente, incomodando serviços na internet.
São os chamados “bots”, abreviatura de “robots”. A palavra robô, “robot”, em inglês, vem de “rabota”, que nas línguas eslavas significa trabalho. Robôs são trabalhadores artificiais, submissos aos que os criaram ou que os controlam. Os robôs podem ser dotados de inteligência, logicamente também artificial e esses rebanhos são as “botnets”. Exércitos virtuais, que causam danos muito reais.
As coisas ligadas recebem comandos remotamente e fazem parte da chusma que habita as nuvens da internet… A ideia original é que atendessem apenas a comandos de seu dono, que as comprou e as têm, mas sempre há os que podem tentar passar-se por ele e, se conseguirem, como os ratos do flautista de Hamelin, os “bots” seguirão subservientemente os novos patrões.
Esses arregimentadores de combatentes, esses “gatos” das coisas, buscam criar esquadras poderosas, que servirão aos próprios interesses, ou que poderão ser “emprestadas” ou “alugadas” a quem se interesse (e pague...) por seus serviços. Com grande poder disponível e sincronizado, uma enorme cacofonia, uma enchente de dados inúteis pode erguer-se na rede fazendo submergir os diálogos, as interações, a música real, enquanto o dilúvio persistir. Na última sexta, 21, importantes serviços e sítios da internet ficaram inacessíveis por estarem assoberbados atendendo a barulhenta intervenção simultânea de 100 mil fofoqueiros.
O objetivo era mostrar força para derrubar serviços e foi composto de prosaicas filmadoras, daquelas que vemos em elevadores e lojas, com a inscrição “sorria você está sendo filmado”. Certamente quem instalou câmeras para segurança não as imagina como armas de ataque.
O que nós, meros usuários, podemos fazer nesse cenário assustador para evitar sermos inocentes úteis?
Jon Postel cunhou o célebre lema: para nossa convivência na internet, devemos “ser liberais no que aceitamos dos outros, e conservadores no que impingimos a eles”. Na rede a cooperação e o bom senso são vitais.
Ao adicionar novos “habitantes” a ela, devemos zelar pela qualidade e segurança. Usar senhas (fortes!), manter os dispositivos com o software atualizado ou, até, trocar de fornecedor ou mudar de ideia.