É moda culpar a Internet por muito do que acontece hoje. Informações são garimpadas em cabos ópticos submarinos? É a Internet! Alguém foi ofendido em redes sociais? É a Internet! Celulares foram monitorados e conversas gravadas? É a Internet! Fotos intimas vazaram e causaram constrangimento? É a Internet! Há pouco, uma senhora, exasperada pelo vazamento de umas fotos de seu próprio celular, declarou em jornal que gostaria de “acabar com a Internet”.
Ao mesmo tempo em que cada vez mais imergimos na rede, é cômodo citá-la como álibi, desculpa para comportamentos humanos, que causaram dano a pessoas e instituições. Não é por outro motivo que surgem projetos de lei pretendendo “corrigir o problema” da Internet, como se a corda fosse a culpada pelos enforcamentos, ou se os atropelamentos devessem ser debitados aos pneus dos automóveis.
Busca-se legislar sobre crimes “eletrônicos”, mesmo que semanticamente isso faça pouco sentido. Se envenenamentos não são crimes “químicos” e afogamentos não são homicídios “hidráulicos”, por quê crimes “eletrônicos”? Indo além, e sob a argumentação de que o alcance da rede é maior que o de outros meios, propõe-se penas mais duras a quem cometer ofensa usando a rede. Há, por exemplo, uma proposta de lei que visa a aumentar a pena de crimes contra a honra se praticados pelas “redes sociais”. Além de ser difícil definir “rede social”, parece haver uma pressuposição de dolo do praticante. Usuários de “rede social” muitas vezes comportam-se como se estivessem numa “mesa de bar” ou “salão de clube” com amigos, usando linguagem direta, sem rebuscamentos e não raro jargão próprio. Não pretendem proselitismo ou difusão de ideias, apenas discussão dentro de seu grupo, mas a conversa pode vasar... Claro que também há os fazem da rede um “amplificador” e discursam para a atrair e converter grandes platéias. São intenções distintas e, cá entre nós, também pode estar havendo alguma hipersensibilidade já que todos, afinal, temos direito a opiniões, gostos, religiões e avaliações estéticas próprias, sem que isso seja automaticamente entendido como ofensa aos que pensam de forma diferente. Parece que estamos uma época de melindres exagerados, de egos inflados e de delicadezas artificiais. Não se trata, naturalmente, de minimizar o sofrimento de vítimas inequívocas de difamações, de crimes contra a honra e de ameaças, mas, como diziam os simples e sábios, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”... E não esqueçamos que, mesmo neste caso, a rede continua tão inocente como o banquinho do orador de praça ou o microfone que ele usou.
A Internet, sim, é um ambiente em que pode haver (e há) formas de exortação à violência, linchamentos virtuais e, até, mera barbárie, mas os agentes disso somos nós, humanos, não a rede em si. Vint Cerf, em 2010 num fórum em Vilna, Lituânia, disse: “A Internet é como um espelho da sociedade. Se você não gosta do que nele vê, quebrá-lo não é a solução”. É mais sábio educar o objeto que lá está refletido...
Ao mesmo tempo em que cada vez mais imergimos na rede, é cômodo citá-la como álibi, desculpa para comportamentos humanos, que causaram dano a pessoas e instituições. Não é por outro motivo que surgem projetos de lei pretendendo “corrigir o problema” da Internet, como se a corda fosse a culpada pelos enforcamentos, ou se os atropelamentos devessem ser debitados aos pneus dos automóveis.
Busca-se legislar sobre crimes “eletrônicos”, mesmo que semanticamente isso faça pouco sentido. Se envenenamentos não são crimes “químicos” e afogamentos não são homicídios “hidráulicos”, por quê crimes “eletrônicos”? Indo além, e sob a argumentação de que o alcance da rede é maior que o de outros meios, propõe-se penas mais duras a quem cometer ofensa usando a rede. Há, por exemplo, uma proposta de lei que visa a aumentar a pena de crimes contra a honra se praticados pelas “redes sociais”. Além de ser difícil definir “rede social”, parece haver uma pressuposição de dolo do praticante. Usuários de “rede social” muitas vezes comportam-se como se estivessem numa “mesa de bar” ou “salão de clube” com amigos, usando linguagem direta, sem rebuscamentos e não raro jargão próprio. Não pretendem proselitismo ou difusão de ideias, apenas discussão dentro de seu grupo, mas a conversa pode vasar... Claro que também há os fazem da rede um “amplificador” e discursam para a atrair e converter grandes platéias. São intenções distintas e, cá entre nós, também pode estar havendo alguma hipersensibilidade já que todos, afinal, temos direito a opiniões, gostos, religiões e avaliações estéticas próprias, sem que isso seja automaticamente entendido como ofensa aos que pensam de forma diferente. Parece que estamos uma época de melindres exagerados, de egos inflados e de delicadezas artificiais. Não se trata, naturalmente, de minimizar o sofrimento de vítimas inequívocas de difamações, de crimes contra a honra e de ameaças, mas, como diziam os simples e sábios, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”... E não esqueçamos que, mesmo neste caso, a rede continua tão inocente como o banquinho do orador de praça ou o microfone que ele usou.
A Internet, sim, é um ambiente em que pode haver (e há) formas de exortação à violência, linchamentos virtuais e, até, mera barbárie, mas os agentes disso somos nós, humanos, não a rede em si. Vint Cerf, em 2010 num fórum em Vilna, Lituânia, disse: “A Internet é como um espelho da sociedade. Se você não gosta do que nele vê, quebrá-lo não é a solução”. É mais sábio educar o objeto que lá está refletido...
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