segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Trocas de tráfego

Há dez dias o conjunto de PTTs operados pelo NIC.br atingiu um pico de 1 Terabit/s. Tera, da raíz grega de “monstruoso”, é um número bem grande: mil vezes Giga (“gigante”, bilhões) ou um milhão de vezes Mega (“grande”, milhões). É o último múltiplo cujo nome ainda mantem coerência semântica: após o Tera, na falta de mais superlativos, seguem-se coisas estranhas como Peta e Exa, deformações de nomes de números como Penta (5) e Hexa (6) talvez inspiradas por Tera ser parecido com Tetra (4).

O fato é que 1 Terabit por segundo é um tráfego mundialmente reconhecido como volumoso e que continua a crescer em bom ritmo. PTT é uma abreviatura que, por ter internacionalmente diversos usos, leva a confusões como asssociá-la a “Public Telephony and Telegraphy” ou “Push-To-Talk”. O NIC.br preferiu adicionar outro acrônimo, internacionalmente mais específico: “IX” “Internet eXchange”. Mas o que vem a ser um PTT e para que serve?

Quando trechos de rede acadêmica começaram a se estabelecer, a maneira de construí-los era alugar, às operadoras, canais de telecomunicação com capacidade suficiente e, ligando-os a equipamentos de roteamento, configurar uma espinha-dorsal (“backbone”) da rede. Nela, as sub-redes e os computadores participantes se conectariam. Note-se que protocolo usado para transporte de conteúdo nesses canais era o definido pela rede em questão: se fosse um pedaço da Internet, por exemplo, o conteúdo seria transportado por TCP/IP. As operadoras alugavam “canais limpos” com a capacidade de banda solicitada e ficava por conta da rede como eles seriam “preenchidos”. Quando o TCP/IP consolidou-se como protocolo padrão, as operadoras passaram a vender conexão já com TCP/IP incluído, ou seja, a oferecer acesso ao próprio “backbone”.

Pela interconexão com as demais operadoras, haveria acesso à Internet como um todo. O cliente agora não precisava mais “ver” a topologia da Internet: bastava contratar a banda necessária e deixar o resto por conta da operadora.

Em grandes cidades, entretanto, parte da banda contratada serve para “cruzar a rua” para ir até a empresas localizada “ao lado”. Ou seja, a mesma banda que podia levar até um serviço na Mongólia também seria usada para ligar a um vizinho. E como o vizinho podia estar se valendo de outro operador, esse “atravessar a rua” poderia significar uma ida a Miami, trocar de operadora por lá, e fazer o caminho de volta. A criação de pontos metropolitanos de interconexão racionaliza isso: as conexões locais podem ser resolvidas localmente, com os interessados trocando tráfego diretamente no PTT metropolitano. E tudo que não estiver ligado diretamente ao PTT continua acessível através da conexão genérica à Internet, ou seja, o PTT em si nem é crítico, nem introduz riscos de conectividade.

O PTT comporta-se, portanto, como uma “praça” em que se resolve a troca de pacotes locais da Internet, a custo muito baixo e com alta eficiência. Ele elimina o “turismo” desnecessário de pacotes pelo mundo, melhora o tempo de trânsito e permite contacto ágil e simples entre provedores e consumidores. Por não se localizar dentro de um ponto de presença local de uma operadora de telecomunicações, é neutro em relação à estrutura.

Numa linguagem mais técnica, o PTT interliga sub-redes (Sistemas Autônomos) que queiram trocar tráfego local de Internet e, com isso, aumenta a eficiência, a resiliência e a estabilidade da rede. O PTT atrai os provedores de comércio eletrônico, de conteúdos e de entretenimento nas mais variadas formas, desde texto até “streaming” de música ou vídeo. Com isso, o provedor pode estar muito mais perto do consumidor, melhorando a qualidade percebida do serviço. Não é à toa que o pico de uso do PTT hoje ocorra às 22 horas, quando a maioria de nós está em casa, usando serviços de entretenimento via Internet.

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https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,trocas-de-trafego,1757704
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