Está na hora da lista das boas resoluções para 2015 e vai aí uma sugestão: que tal participar de alguma reunião do IETF? São três por ano. A próxima (a 92ª) será em março, em Dallas, Texas. Para os técnicos, ir ao IETF pode equivaler a fazer o caminho para Santiago de Compostela. Há até um guia, The Tao of IETF, traduzido como O Livro do IETF e que explica a dinâmica e a etiqueta nas reuniões.
O IETF (força-tarefa de engenharia da Internet, na sigla em inglês), reúne milhares de voluntários que discutem e produzem documentos técnicos e padrões da rede. Trabalha-se com padrões abertos obtidos por consenso, disponíveis publicamente, de aceitação voluntária e livres de royalties. Regras claras que permitam um trabalho em conjunto na rede. Participam do IETF técnicos, pesquisadores, professores, estudantes e qualquer interessado.
Desde janeiro de 1986 produz RFCs (“request for comments”) das quais temos já quase 7.500. A grande maioria são apenas informativas, ou históricas, ou superadas por outras, mas todos os padrões que regem a Internet estão lá, rebatizados como STDs. A definição do TCP (protocolo de controle de transmissão, padrão usado para trâfego de dados na Internet) é a RFC 793, ou STD7 e há apenas 79 STDs.
Outra categoria é a das RFCs que se tornaram “melhores práticas comuns”: as BCPs. Há 193 BCPs hoje (inclusive com co-autoria de brasileiros, como a BCP 140, ou RFC 5358, de Frederico Neves, do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, NIC.br).
Fui a reuniões do IETF nos anos 90, das quais guardo ótimas e gratas lembranças. Um dos motivos de não voltar a frequentá-las – à parte minha natural obsolescência e às outras atividades – tem a ver com o que o saudoso escritor Rubem Alves recomendava: se gostou muito de algum lugar, melhor não voltar a ele, mesmo porque não há como voltar: o que ele representou não existe mais. Sem exageros, foi divertido participar do IETF naquela época, e deve continuar a sê-lo hoje.
Uma presença constante era a do falecido Jonathan (Jon) Postel, que era ao mesmo tempo um fundamental pioneiro da Internet, e a personificação de uma instituição, a Iana (Internet Assigned Numbers Authority). Outros sempre presentes eram Vint Cerf, Bob Braden e Steve Crocker (autor da RFC 1). A RFC 1336, de 1992 é uma coleção de minibiografias dos participantes.
Os frequentadores típicos usavam camisetas, jeans e sandálias, além das mochilas e das longas melenas. Algo como um Woodstock tardio. A exceção era Vint Cerf, sempre de terno com colete. Mesmo ele acabou abrindo exceções: num IETF vestiu uma camiseta com os dizeres “IP everywhere”, que em inglês pode ter o duplo sentido de “IP em todos os lugares” e “eu urino em todos os lugares”.
Para reunir os interessados em discutir o TUBA (RFC 1347 – TCP and UDP with Bigger Addresses), um protocolo de 1992 e hoje abandonado, que substituiria o IPv4 em vias de esgotar, Ross Callon, seu proponente, percorria o recinto com um tocador de tuba. Já na camiseta do Postel lia-se “vivemos em tempos interessantes, e ainda temos muito a fazer…”. Mas essa história fica para uma próxima.
O IETF (força-tarefa de engenharia da Internet, na sigla em inglês), reúne milhares de voluntários que discutem e produzem documentos técnicos e padrões da rede. Trabalha-se com padrões abertos obtidos por consenso, disponíveis publicamente, de aceitação voluntária e livres de royalties. Regras claras que permitam um trabalho em conjunto na rede. Participam do IETF técnicos, pesquisadores, professores, estudantes e qualquer interessado.
Desde janeiro de 1986 produz RFCs (“request for comments”) das quais temos já quase 7.500. A grande maioria são apenas informativas, ou históricas, ou superadas por outras, mas todos os padrões que regem a Internet estão lá, rebatizados como STDs. A definição do TCP (protocolo de controle de transmissão, padrão usado para trâfego de dados na Internet) é a RFC 793, ou STD7 e há apenas 79 STDs.
Outra categoria é a das RFCs que se tornaram “melhores práticas comuns”: as BCPs. Há 193 BCPs hoje (inclusive com co-autoria de brasileiros, como a BCP 140, ou RFC 5358, de Frederico Neves, do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, NIC.br).
Fui a reuniões do IETF nos anos 90, das quais guardo ótimas e gratas lembranças. Um dos motivos de não voltar a frequentá-las – à parte minha natural obsolescência e às outras atividades – tem a ver com o que o saudoso escritor Rubem Alves recomendava: se gostou muito de algum lugar, melhor não voltar a ele, mesmo porque não há como voltar: o que ele representou não existe mais. Sem exageros, foi divertido participar do IETF naquela época, e deve continuar a sê-lo hoje.
Uma presença constante era a do falecido Jonathan (Jon) Postel, que era ao mesmo tempo um fundamental pioneiro da Internet, e a personificação de uma instituição, a Iana (Internet Assigned Numbers Authority). Outros sempre presentes eram Vint Cerf, Bob Braden e Steve Crocker (autor da RFC 1). A RFC 1336, de 1992 é uma coleção de minibiografias dos participantes.
Os frequentadores típicos usavam camisetas, jeans e sandálias, além das mochilas e das longas melenas. Algo como um Woodstock tardio. A exceção era Vint Cerf, sempre de terno com colete. Mesmo ele acabou abrindo exceções: num IETF vestiu uma camiseta com os dizeres “IP everywhere”, que em inglês pode ter o duplo sentido de “IP em todos os lugares” e “eu urino em todos os lugares”.
Para reunir os interessados em discutir o TUBA (RFC 1347 – TCP and UDP with Bigger Addresses), um protocolo de 1992 e hoje abandonado, que substituiria o IPv4 em vias de esgotar, Ross Callon, seu proponente, percorria o recinto com um tocador de tuba. Já na camiseta do Postel lia-se “vivemos em tempos interessantes, e ainda temos muito a fazer…”. Mas essa história fica para uma próxima.
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